“Não leiam só minha biografia. Leiam meus textos”.
Essa frase é o trecho de uma entrevista concedida ao site Brasil de Fato, onde Conceição diz que a biografia dela é importante, que contamina seu texto, mas que não resume quem ela é. Muito se fala sobre a mulher negra que escreve, mas quem de fato consome a arte que ela produz?
Ela diz: “Tudo que escrevo é profundamente marcados pela minha condição de mulher negra na sociedade brasileira. Então eu procuro trazer no meu texto personagens, homens, mulheres, crianças, ambientes, posturas de vida, acontecimentos praticamente relacionados com a minha experiência enquanto mulher negra, nesse ambiente de corpos africanos escravizados no Brasil. Há toda uma herança histórica do povo negro presente no meu texto como memória…” E completa “O racismo que permeia as instituições brasileiras é muito cruel. Estão no imaginário do brasileiro algumas competências para o sujeito negro. Acredita-se que ele saiba dançar, cantar, e principalmente no caso das mulheres, cozinhar. Mas as competências intelectuais, principalmente as literárias, não. Quando se trata da literatura, talvez porque ela use o maior bem simbólico da nação que é a língua, essa escrita negra não é acreditada”.
Em seus escritos, sentimos o derramar de dores, dificuldades e tristezas. Ela traz reflexões profundas sobre a desigualdade velada da sociedade, bem como questões de raça e de gênero. Ler tuas poesias é como mergulhar em seu mundo. E sim, Conceição, depois de te ler entendo a tua frase lá do início. Te conheci melhor lendo teus textos do que lendo a sua biografia.
Conceição Evaristo é Escritora, poetisa, romancista, ensaísta, professora e um dos nomes mais importantes da literatura brasileira. Tem cinco livros publicados, além de 3 publicados no exterior e está em mais de 10 antologias. Em 28 de novembro de 2020, no Auditório do Ibirapuera, em SP, ela recebeu o prêmio de Personalidade Literária do Ano e será a grande homenageada do 61º Prêmio Jabuti.